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O marido, o pai, o empresário, o freelancer e o funcionário

(arte ilustrada retratando não só luz no fim do túnel, mas laços familiares dentro de um pesadelo de dificuldades sem fim, no meio de uma cidade turbulenta)


Pode parecer início de uma piada, mas garanto que não é.

Um dia o marido, o pai, o empresário, o freelancer e o funcionário se encontraram para falar sobre suas vidas e como lhe davam com as coisas do cotidiano.

O Marido

O marido, sempre solícito, falou o quão se dedicava a sua esposa, ajudava na casa e dos problemas que tinha que administrar. Ele se achava o marido ideal, perfeito, aquele que lavava a louça e levava a esposa para jantar, mas no fundo sempre queria dar mais de si. As cobranças sempre haviam também. Por mais que ele achava que fazia, sempre havia algo a mais que ele tinha que se dedicar e não sabia.

De vez em quando fazia o jantar, muito raramente lava a roupa ou estendia as roupas no varal, mas era amável e fazia de tudo para sua amada. Esse cara era desligado, não conseguia lembrar de um compromisso se quer. Tudo tinha que marcar na agenda do celular: aniversário de amigo da esposa, churrasco com a galera, ir a loja de construção para fazer cotação, enfim. Essas coisas eram motivos de discussões constantes. Porém, era uma pessoa dedicada e fiel, fazia de tudo para estar junto da esposa, deixava de sair com os amigos algumas vezes ou ir a shows, que ele adorava, só para não gerar estresse desnecessário e permanecer junto com sua mulher. Ele sempre costumava usar jeans, camisa xadrez e tênis, usava relógio e penteava os cabelos. Estava constantemente bem arrumado para sair. Até porque no início de relacionamento teve alguém para orienta-lo… sua própria rainha.

Vivia pensando em como podia agradá-la. Se ela chorava ele sentia, se ela estava alegre ou chamando ele no diminutivo, ficava contente pois sabia que estava bem. Quando viajavam a sós era o momento de recarregar as energias para mais algum período sem que outros assuntos da vida atrapalhassem o seu relacionamento.

O pai

O pai era a pessoa mais brincalhona que podia existir. Era pai de duas meninas e era extremamente amável. Quando nasceu sua primeira filha, o pai de primeira viagem não sabia brincar de boneca, e quando chegava do trabalho sentava no corredor da sala com as pernas abertas de frente à sua filha e rolava uma bola para ela.

As bolas que eles brincavam eram de diferentes tamanhos, desde aquelas que pulam muito que se pega nas máquinas em estabelecimentos, que em alguns lugares chama-se bola perereca, que são de borracha dura, passava por bolinhas de tênis e também bolas maiores como as de futsal e futebol de campo. Resumindo, a criança cresceu e virou fã de futebol.

Neste ano, ela disputava uma peneira no único time feminino da cidade para a idade dela, e o pai estava dedicado a levá-la a realizar seu sonho. Deixou inúmeros compromissos para trás e isso o incomodava, mas queria muito que ela passasse.

Antes disso, há 3 anos antes, veio sua segunda filha. Com a vida um pouco mais estruturada, achou que esta seria mais fácil de lhe-dar com o dia-a-dia da criança, mas enganou-se. Esta viria ao mundo com uma personalidade única. O quanto ela tinha de amável e carinhosa ao extremo, ela tinha de desobediente e enfrentava seus pais. Com isso o pai tinha picos de estresse e acabava se perdendo algumas vezes. Nunca foi violento, nada disso, mas tinha que educar, e quem é pai ou mãe, sabe que não é fácil e muitas vezes deve-se ser enérgico nas lições e castigos. Esta, adorava balé e era uma verdadeira princesa.

O pai adorava quando ela pedia para ficar mais um pouquinho na sua cama antes de dormir e quando perguntava se durante a noite ele iria vê-la toda hora. Ele queria poder dedicar mais tempo a elas, a final, no início quando só tinha uma, ele conseguia se dedicar mais às brincadeiras e com a vinda da segunda, ficou mais sobrecarregado de trabalho. Ele andava de bermuda, meia alta, camiseta de skate, boné, relógio estilo G-Shock e cabelos bagunçados. Era um garotão no corpo de um cara com mais de “trintão”.

O empresário

O empresário estava se tornando bem sucedido. Seu negócio estava prosperando e apareciam diariamente mais e mais prospecções vindos principalmente de indicações de outros clientes. Estava contente, pois estava vendo o business prosperar. Montou seu escritório, encontrou colaboradores que o ajudavam, tudo indo bem. Mas a sobrecarga de trabalho era imensa. Sua empresa já tinha 7 anos de existência, mas no último ano que ele se dedicou fortemente e o negócio decolou.

Ele sentia o peso de ser o chefe da coisa toda. Com pouco tempo para os filhos e esposa ele reclamava que queria se dedicar mais, porém o dia só tinha 24h, e ele passava 4 e as vezes 5 horas dele, “perdidas” durante o sono. Vestia jeans e camisa social, mas comprava ternos bacanas para usar nas reuniões e tinha uma postura de impressionar. Gostava de relógio estilo Skeleton, sempre o usava, pois controlava bastante seu tempo, e estava com cabelos modelados com pomada ou gel quase sempre. Ía ao seu escritório diariamente, inclusive aos finais de semana. Era engajado nas redes sociais, pois sua divulgação ficou muito forte lá, e percebeu o quanto isso funcionava para seu negócio.

Vivia em reuniões e em conference calls, nunca esquecia um compromisso se quer, e tinha um brilho contagiante nos olhos quando falava de suas conquistas e vitórias dentro do trabalho. Todo cliente novo era comemorado e com isso passava horas contando o mesmo assunto para a esposa de como havia conseguido fechar tal contrato.

O freelancer

O freelancer amava trabalhar home-office de bermuda, chinelo e regata de basquete. Quando adolescente era jogador de basquete, por isso a paixão. Não usava relógio e quase nunca penteava os cabelos. Conforme fazia seu trabalho, postava da rede social e isso atraia mais e mais gente a consultarem seus serviços. Seu dilema era saber quando ele passaria ser um empresário de fato.

Precisava manter um preço atrativo para pegar mais clientes e assim sobreviver e sustentar sua família. Design e programação front-end eram suas vocações, porém estava vendo seu negócio prosperar com o advento das redes sociais, onde gerenciava as redes de vários clientes. Uma coisa ele sabia bem… funcionário ele jamais seria.

Ele trabalhava sozinho, mas certa vez ocorreu um acidente enquanto praticava seu tão amado basquete, que fez com que ele quebrasse um dos dedos da mão. Isso o deixou afastado de suas atividades por certo tempo e precisou buscar auxílio de alguns outros profissionais. Anunciou no Instagram e encontrou algumas pessoas que podiam ajudá-lo a executar algumas tarefas para cumprir os prazos de seus clientes. Sua mão nunca mais voltou a ser a mesma, ganhou uma Artrose antecipada, mas com muita fisioterapia as dores e os movimentos foram melhorando. imaginem um designer não conseguindo segurar uma caneta direito nem para escrever seu próprio nome.

Adorava trabalhar em casa pois ficava mais perto de sua esposa e filhas, porém deveria ter um comprometimento enorme para não relaxar mais do que deveria, e nesse sentido, ele tinha um senso muito grande. Tinha ideias de fazer seu negócio prosperar, mas tinha alguns medos de dar o próximo passo, ou seja, abrir uma empresa de fato e contratar pessoas.

O funcionário

O funcionário era aquele que tinha que cumprir muitas regras no escritório, como chegar no horário e executar tudo aquilo que as outras pessoas pediam, executar as rotinas diárias além de conviver com muitas pessoas diferentes mais tempo do que com sua família. Ele se dedicava muito às suas funções e vivia sobrecarregado de novas ações. Seu salário era o mesmo por 5 anos e tentou conversar sobre aumentos sem sucesso. Tinha sempre em mente ideias para empreender, mas nunca tinha coragem de tomar uma atitude, a final de contas, tinha uma família para sustentar, um financiamento enorme à se pagar, e ainda duas mensalidades escolares que não eram baratas.

Sua carreira pode ser considerada de sucesso, a final havia feito duas faculdades e trabalhava no ramo de atividade das duas. Vestia jeans, ora camiseta, ora camisa, tênis e usava relógio com a pulseira metálica, e ora penteava os cabelos com gel, ora apenas passava a mão para uma leve arrumada. Era bastante comprometido com suas funções e gostava de saber se os negócios estavam prosperando e se seu esforço estava tendo algum retorno para a empresa. Convivia com as cobranças típicas de um escritório e sabia lhe-dar com pressão. Sua válvula de escape era a família, onde tentava ao máximo completar sua jornada de trabalho sem ter de fazer horas extras, não remuneradas, para poder voltar para casa no tumultuado transporte coletivo de São Paulo.

Tinha pensamentos controversos, sobre a empresa trabalhada, inicialmente teve uma fase de adoração, depois revoltas por fraco retorno financeiro e valorização pessoal e hoje vive num momento estável, pois entende os processos, mesmo com certo descontentamento ainda sobre remuneração, aceita o fato da crise econômica e por conseguir enxergar outros tipos de benefícios no meio em que convive. Nas rodas de amigos e happy hours, contava sobre como ele gostava de ouvir o Flávio Augusto, hoje empresário bem sucedido, e que uma hora colocaria suas ideias em prática. Ía ao trabalho ouvindo o hoje falecido jornalista Boechat, e como sentiu sua perda, mencionando que a população ficaria mais burra sem seus comentários matinais.

Contava que ao chegar em casa, seus problemas desapareciam, pois estava nos braços de sua família e que como era gostoso ser recepcionado com o abraço e beijo das filhas.

Multi-homem

Os mais antigos lembrarão do Multi-Homem do desenho The Impossibles (Os Impossíveis). Essa referência pode ilustrar a vida de muitas pessoas hoje em dia, principalmente nas grandes metrópoles.

Quando essas 5 pessoas pararam para conversar notaram muitas semelhanças entre elas, compartilharam ideias e visões parecidas, porém não em sua totalidade. A final de contas, será que são personalidades diferentes? Na verdade, são como as pessoas vivem hoje em dia e como elas devem se multiplicar.

O marido pode ser A Esposa. O pai, pode ser A mãe. E assim por diante… se mudarmos os artigos para o feminino então, esta relação pode ampliar ainda mais: A dona de casa; A motorista; A administradora geral da vida da família (do marido, do filho, da mãe, do pai, da vó, do cachorro, do papagaio, etc).

A capacidade de estar presente, representando sempre em alto nível todas as funções é muito difícil. As pessoas tem seus próprios problemas, além de problemas dos que estão em sua volta para resolver, e apresentar soluções sempre com um nível de exigência e excelência potencializada ao extremo.

Estes 5 caras, que até pode ser Eu, com certeza é você!

Sinto escrever que não existe uma fórmula exata do tipo: faça isso que você resolverá todas as suas questões. Digo isso por que é imprevisível! Contarei mais um breve relato: Minha família e eu estávamos de férias agendada e eu sofri um acidente enquanto me divertia no final do ano. Conseguimos prosseguir com a viagem, mas eu não podia me divertir tanto quanto queria. As coisas foram melhorando, começávamos a refazer os planos e minha esposa começou a sofrer fortes cólicas renais, com infecção na urina e mais uma vez no período que teríamos para se restabelecer, fomos surpreendidos com uma cirurgia de última hora. Isso envolve fator emocional desajustado, dinheiro para exames, clientes que deixamos de atender, filhos que não damos a devida atenção, e todo o resto que você já sabe.

A lição que vejo em tudo isso é como já dizia o personagem Rocky Balboa: “Ninguém baterá tão forte quanto a vida. Porém, não se trata de quão forte pode bater, se trata de quão forte pode ser atingido e continuar seguindo em frente. É assim que a vitória é conquistada.”

Nós podemos ser o que queremos com fé e determinação. Lá na frente eu espero ouvir de alguém: “Ei… você só conseguiu porque teve sorte”. Se isso acontecer, é porque eu de fato tive a sorte que eu batalhei para construir, nunca sozinho, mas com minha esposa e duas filhas.